Acabaram-se as desculpas para não conhecer a biodiversidade do país. A partir de qualquer local e em qualquer altura vai ser possível ler, gratuitamente, os 1500 documentos que o
Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) está a digitalizar e a colocar na Internet, com mais de 30 anos de informação sobre plantas, animais e áreas protegidas.
Paula Abreu, coordenadora do projecto, conta ter disponíveis, pelo menos, 500 relatórios e publicações até ao final do ano. Hoje ainda só estão acessíveis documentos sobre o Parque Nacional Peneda-Gerês e o Parque Natural de Montesinho. Na Biblioteca digital, organizada em áreas geográficas e áreas temáticas, já se pode ler sobre os cogumelos e a floresta natural da Peneda-Gerês, a vegetação do Rio Sabor e os moinhos de água de Vinhais, sobre o gato-bravo, o lobo, a lontra e os morcegos de Montesinho.
«É um trabalho muito exigente, tem de ser feito aos poucos», contou Paula Abreu. São 30 anos de trabalho na área da conservação da natureza, desde os antepassados do ICNB, como o Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico (SNPRPP, criado em 1975), o Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza (SNPRCN, 1983) e o Instituto de Conservação da Natureza (ICN, 1993).
Em 2006, o ICNB começou a visitar as 25 áreas protegidas do país e a estudar o seu arquivo central em Lisboa para reunir documentação dispersa. Muita informação apenas existia nas sedes de parques e reservas espalhadas pelo país. Ao mesmo tempo iniciou a digitalização de documentos produzidos ou promovidos pelo instituto.
«Há pessoas que nos pedem informação sobre aspectos específicos das áreas protegidas, mas são as plantas ameaçadas e plantas aromáticas as mais procuradas», comentou a bióloga Paula Abreu.
A ideia surgiu quando o ICNB passou a ter de enviar muita da documentação por correio electrónico a pessoas que não se podiam deslocar ao centro de documentação do ICNB, em Lisboa, ou que não tinham disponibilidade para ir às várias áreas protegidas procurar o que pretendiam.
Hoje, o centro de documentação está fechado ao público. «Está em reestruturação. Estamos a fazer um levantamento e a sistematizar a informação. Mas o que posso dizer é que vai ficar disponível, como complemento ao online», explicou.
Quando tiver boa parte dos seus documentos digitalizados, a Biblioteca digital pretende ainda solicitar a autorização a várias entidades para disponibilizar algumas obras históricas de referência. O ICNB já está «de olho» em duas: a “Expedição científica à serra da Estrela”, publicada em 1891 pela Sociedade da Geografia de Lisboa, e o livro “The Birds of Portugal”, do ornitólogo William Tait, de 1924. «Obras como estas são importantes ainda hoje, nomeadamente para conseguirmos saber como foi a evolução de determinada espécie ou área protegida. Tem interesse para a gestão», salientou.
Outra mais-valia que Paula Abreu lembrou é que «existem alguns estudos da década de 80 sobre muitas áreas protegidas que já estão esgotados».
Para o futuro, a biblioteca digital vai permitir a pesquisa por palavra-chave.
Helena GeraldesFonte: Público - 23-11-008